domingo, 2 de dezembro de 2007

Ordem e exclusão

Em grades, muros de concreto
Privados da liberdade
É onde vivem
“Infratores”, “destruidores da ordem”

Em grades, muros de concreto
Numa questionável liberdade
É como vivem
Os “íntegros”, os “seguidores da ordem”

“Seguidores” e “destruidores”
Não conseguem esconder as dores
Que um diz que o outro causou

Mas será que eles são causadores?
Ou são meros agentes sofredores
Que o sistema encarregou?

Os que comandam o sistema
São também “seguidores da ordem”
Mas diferentes dos outros
Muito dinheiro eles têm

Vivem numa questionável liberdade
Mas gastam dinheiro à vontade
Ao contrário dos outros “seguidores”
Moram bem longe das grades dos “infratores”

Destes, eles querem distância
Para eles, os “infratores” são umas “pragas”
E devem morrer isolados da bonança

Mas não só eles pensam assim
Grande parte dos “íntegros”
Nos “infratores” querem pôr a fim

A sociedade adora
Essas novidades
Livrar-se dos infortúnios
Na maior comodidade

A polícia está para trazer
A segurança dos “seguidores”
Ou estaria para trazer
A dos ricos “seguidores”?

Na mão da polícia
Também sofrem os “seguidores” pobres
Pois é fácil considerar-se “infrator”, um pobre

Se a polícia protege os ricos proprietários
Está protegendo a propriedade privada
E garantindo o bem-estar dos mercenários

Muitos “seguidores” pobres estão alienados
Acham que os “infratores”
São os “destruidores” da sociedade
E esquecem a culpa dos “seguidores” ricos

Os “infratores” também estão alienados
Atacam na maioria das vezes
As classes baixas da população
Sendo a desigualdade a culpada da situação

“Mas por que os ricos são culpados?
E como surgiu essa ordem de violência e caos?
Eu quero saber!” – diz o leitor atordoado

Ah, caro leitor
O que provoca a imensa desigualdade social?
O que causa o não investimento na educação?

A miséria fomenta uma grande revolta
Na cabeça das pessoas
O dito meliante fica com raiva
Desse panorama e da escolta

Eles não têm nada a perder
Não têm dinheiro, nem oportunidades
Por isso são condicionados a matar, roubar
Exceções de miséria e “ótima conduta” são mostradas na TV

As penitenciárias são verdadeiros solos
Para o cultivo da revolta do presidiário
Centenas deles numa cela os deixam mais incendiários

Porém, a classe dominante
Percebe que o mal está voltando para si mesma
Os crimes estão cada vez mais organizados

Mas ela teme ainda mais a união
Se os “seguidores” pobres e os “infratores”
Se unissem seria o término da sua hegemonia

Para isso não acontecer
Ela dissemina seus preconceitos e ideologias
Dividindo a classe trabalhadora
E as injustiças continuando a florescer

“Você é presidiário, sai do meu grupo!”
“Você é homossexual, sai do meu grupo!”
“Você é negro, sai do meu grupo!”
São casos que dividem a sociedade em grupos

“Eu só participo do combate ao machismo”
“Eu só participo do combate à homofobia”
“Eu só participo do combate ao racismo”
Por que também não participam do combate ao capitalismo?

O capitalismo saboreia
A fragmentação dos movimentos sociais
Até investe neles
Contanto que a causa não seja revoltas sociais

E então meu amigo,
Ainda acha que os presos das cadeias
São os destruidores da sociedade?
Acha que devem ficar nas condições das detenções?

Acha que isolados eles devem continuar?
Você gosta de sonhar, sem ver e fazer o trabalho “sujo”?
Acha que a sociedade já está unida, é democrática?
Desculpa... nada mais a declarar.

(David Alves Gomes – Abril/2007)

Nenhum comentário:

Licença Creative Commons
O trabalho Blog Vida e Dialetica de David Alves Gomes foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Brasil.
Com base no trabalho disponível em vidaedialetica.blogspot.com.