segunda-feira, 30 de abril de 2012

Tortura

A pedra de sal
Está sendo devorada:
Águas famintas
Dilaceram e formam
E você?
Por que não vê esta
Infame tortura?
Tentativa de homicídio?
Será que sou sádico?
Gozo do sofrimento
De uma pedra!
De uma simples pedra,
Que você não vê.

(David Alves Gomes – 30 de abril de 2012)

domingo, 29 de abril de 2012

Identidade

Minha cor
É símbolo de luta
Mas não me rotulem:
Não sou ex-escravo
Não sou candomblé
Nem sou Zumbi
Tudo compõe minha história
Grandiosa história de lutas
Seguirei caminhos…
Podem ser diversos
Mas serão inspirados
Quando olhar para trás.

(David Alves Gomes – 29 de abril de 2012)

Inteiramente minha

Quero sua boca,
Molhada de paixão…
Quero sua paixão
Saborosa como uma pêra…
Quero sua pêra
Canibal vulva ardente…
Quero seu ardente sexo:
Leoa feroz sempre inteira…
Quero voce inteira,
Inteiramente minha.

(David Alves Gomes – 29 de abril de 2012)

Ritmo do beijo

Um beijo
Inicial desejo
Carnudos lábios:
Plumas que se afagam…
Dentes vorazes
Alimentam-se da carne…
Desvairadas línguas
(Não sabem ao certo o caminho)
Percorrem todo o espaço bucal
Compondo a orquestra do desejo…
Em forte ritmo,
Pelos corpos,
Suadas mãos acompanham
A maestria do beijo
Vamos aproveitar o ensejo?

(David Alves Gomes – 29 de abril de 2012)

sábado, 28 de abril de 2012

Noite de luta

Só tenho uma espada
Ele possui escudo
Mas não o quero longe:
Este desafio me fascina
Pois em vão,
Tento ser um gigante…
Mesmo vencedor
Ele me é generoso:
Presenteia-me com os sonhos
Em que alcanço a plenitude.

(David Alves Gomes – 28 de abril de 2012)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Churrasco

As carnes estão,
Estão na brasa
Uma sublime chama
Que não se apaga…
O sabor do amor
Me é um belo churrasco:
O espeto viril
Atravessa sua carne
E a doura de prazer
Deixando-a mais saborosa
Até o amanhecer.

(David Alves Gomes – 26 de abril de 2012)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ventania

À toa estou
Ao léu fiquei
A Deus dará ficarei...
Ficarei?
Não tenho destino
Tenho caminhos
A Deus não pertence
O vento a soprar
(a brisa talvez)
Mas a ventania,
Esta ventania…
Nem mesmo Ele irá amar.

(David Alves Gomes – 25 de abril de 2012)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Alimento

Fome presente
Presente de fome
Uma porção não come

Respeito ausente
O outro não importa
Indiferença é uma horta

A face do privilégio
Sorri para o tédio
Real mudança é um sacrilégio

Do alimento do povo
Surgirá o novo
Das margens do cálice, brota-se um ovo

(David Alves Gomes – 23 de abril de 2012)

sábado, 21 de abril de 2012

Loucura

Ritos, passagens, gritos
O ritual é a rotina
Sem religião
É a normalidade
Rejeitando a loucura:
Insana passagem
Que não tem medo,
Desafiando o obscuro
E silenciando
O contido grito

(David Alves Gomes – 19 de abril de 2012)

Ainda será

Venha princesa
Não tenha medo
Sei que ouve
Ainda que seja
O barulho do mar
As ondas vem…
E galopantes vão…
Nunca são as mesmas
Não tenha medo do futuro!
Ainda que seja incerto,
Nunca saberá
Se esse nosso mergulho
Não nos banhará
Com uma coroa de algas…
Ainda que seja incerto
Ainda é uma onda do mar.

(David Alves Gomes – 17 de abril de 2012)

Seriguela

Guela minha seriguela
Goela abaixo…
Te engasgo a gruta…
Come a fruta
Numa grande luta

(David Alves Gomes e Gonesa Souza Gonçalves – 03 de abil de 2012)

sábado, 7 de abril de 2012

O que trouxe pra mim?

Coelhinho da Páscoa
Traga para mim
Um pão, uma comida assim
Traga-me chocolates
Quero aqueles das lojas…
Por que capitalistas o adoram
E a mim são indiferentes?
Alguns evocam
O original símbolo da Páscoa
Por que seu Senhor
Não me traz alimentos?
Já alimentei meu espírito
Muitos rezam por mim
Apenas fazem isso
Ele morreu por mim?
Mas o que fiz?
Não fiz mal a ninguém
Só quero viver
Em um Jardim do Éden
Insiste em orar?
Vamos então…
Desta vez eu começo:
Meu Senhor, nunca O vi
Mas isso não importa
Já tive amigos imaginários
Por que me abandonou
Como Lhe fez o seu Pai?
Tem um plano para mim?
Devo seguir seu caminho?
E não seguindo?
Irei para o Inferno?
O Senhor é mais assustador
Que o Bicho-Papão!
Quero uma vida melhor
Acho que só mudando a sociedade
O quê?
Não devo ser subversivo?
O Senhor é bem conformista
Não darei meu rosto a porradas!
Não gostei de conversar com o Senhor
Não quer resolver meu problema
Eu mesmo resolvo
Não acredito em seu Inferno
Já vivo em um
Acho que o Senhor e o Coelhinho
Que o trouxeram-me nesta Páscoa
Serei amigo do Bicho-Papão
Ninguém gosta dele…
Simpatizei com ele
Quem sabe sendo diferente
Conseguirei alguma mudança…

(David Alves Gomes – 07 de abril de 2012)

Observações

Olho a fotografia
E vejo-me distante
Talvez esperando…
Godot não aparece
Minhas jovens marcas
Já me ensinam
Cochicham-me cada fio de barba
E dizem-me:
“Beba esta limonada
Às vezes amarga
Um pouco de casca
Mas prazerosa quando doce
Somente saberá seu gosto
Se bebê-la
E lembre-se: esta limonada
É você quem faz”.

(David Alves Gomes – 07 de abril de 2012)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ocupados pela ordem

Invasão?
A repressão que invadiu
Vindo o descaso,
O abandono…
Vieram interesses,
Indivíduos…
Individuais decisões
Em prol da especulação
E da derrota social
Mas não há derrota
Nossa força é uma suave lama
Uma areia movediça
Engoliremos seus prédios
Demarcaremos território…
Descansaremos sob o pinheiro
Pois nosso sonho é real.

(David Alves Gomes – 02 de abril de 2012)

Visivelmente oculto

Olho para você
E me vejo refletido
Por qual motivo?
Alimenta paixão por mim?
Tragando minha essência
Com sua alma?
Sou Narciso?
E quero ver-me
De-ma-si-a-da-men-te
Em seu rosto?
Será que usa uma máscara?
Como posso ser “Eu”
Com esses múltiplos papéis?
Como saber se isto
É mesmo o seu amor?
É mesmo o meu amor?

(David Alves Gomes – 26 de março de 2012)

Liberdade poética

A vontade da escrita
É súbita
É imponente…
Grita com o poeta!
Surge do mais distante,
Do obscuro nada
Trazendo a claridade das palavras
Pela tinta feroz a rasgar…

̶  Mas por que não a doma?
̶  É um refém imbecil
̶  Das suas próprias sensações?

Não, meu caro
Não vivo sob grades
Meus sentimentos estão livres
E você?

(David Alves Gomes – 18 de março de 2012)

Presente

Escamoteada
Não escondida
Silenciosa
Não calada
Ações sutis
Mas modificadoras
Ela não tem medo
Ela é suave
Ardilosa sabedoria
É o seu realce
A ausência
Não é falta de presença.

(David Alves Gomes – 12 de março de 2012)

Reflexão

Tradutor da realidade
Incompreensível para alguns
Rejeitado por outros…
Porém não exibe o real
Apenas análises
Interpretações
Reflexões…
Contidas nesse perturbador objeto
Não tenha medo do espelho
Perceba sua identidade
Repense a realidade.

(David Alves Gomes – 08 de março de 2012)
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